(12-01-2025 às 21:36:58)
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Brincos compridos, ocos na Ourivesaria Popular |
O termo "brincos compridos" obedece ao aspecto morfológico destes objectos que muitas vezes tocam o ombro das portadoras ou continuam-no mesmo, atingindo quase o peito, misturando-se com os trancelins, cordões e pendentes.
A grande proporção, leveza (dado a sua execução em chapa de ouro, prata ou outro metal, muito fina) e o barroquismo decorativo que apresentam, constituem as características marcantes destas peças, que se enquadram plenamente nas necessidades de ostentação e de "ourar", evidenciadas pela mulher nortenha. Pelo menos durante quase dois séculos, estas jóias mantiveram-se em moda, preferencialmente usadas em dias de festa ou ocasiões especiais, quando o seu tamanho excedia a normalidade e dificultava os movimentos. Rocha Peixoto distinguiu-os dos outros brincos modelados em chapa, designando-os de oblongos e Ricardo Severo referia-se seguramente a eles quando descreveu os longos brincos de folha de ouro, típicos da ourivesaria popular do norte do país, que o autor considerava serem prolongamentos dos velhos adornos da nossa ourivesaria arcaica. Menos certezas temos em compreender se Luiz Chaves,quando trata repetidas vezes dos "cabaços", esguios ou das cabacinhas ou brincos fusiformes, refere-se também a este tipo de brincos ou apenas aos conhecidos "brincos de fuso", com trabalho de Por outro lado, sabemos através de Raphael Bluteau que o termo cabaças era aplicado a um adorno de orelha desde os princípios do século XVIII. De qualquer modo, quando Luís Chaves trata das Alberto Souza emprega a expressão grandes arrecadas de ouro nas orelhas para os designar, o que prova que o termo arrecada ainda não havia sido ultrapassado ou usado apenas para determinadas peças, e que continuava a ser utilizado como designação geral aplicável aos adornos de orelha. Bolota Em trabalhos mais recentes, o nome dado a estes brincos respeita a técnica, a forma e os motivos decorativos que separam os diferentes modelos: Brincos estampados, com esmalte, para a primeira situação, acrescentando-se atributos de foro ornamental a saber Brincos estampados, Fé, Esperança e Caridade, Brincos estampados, bolotas, tal como foram tratados na Exposição de Ourivesaria Artesanal de Gondomar. Cacho de UvasManuel Rosas apelida-os de brincos compridos de duas peças (brincos labrados), Amadeu Costa definiu brincos compridos, ocos e barrocos e Fátima Macedo inclui estes modelos (ou outros idênticos) na tipologia dos "brincos de fuso", reminescências actuais, no seu entender, das arrecadas de Briteiros, por apresentarem também o mesmo esquema de suspensão e alongamento do pendente. O número de cunhos existentes na oficina em estudo, destinados ao fabrico de brincos compridos, ultrapassam largamente as três centenas, colocando-os entre os modelos mais abundantes desta colecção. Os tamanhos são diversos, variando entre cerca de um e dez centímetros. Pela observação de fotografias de peças acabadas e pelas descrições formais destes objectos, sabe-se que estes brincos são compostos por duas partes distintas, uma mais pequena na parte superior, de onde prende o aro de suspensão, e uma maior apensa a essa por uma argola; os moldes mais reduzidos destinam-se, assim, ao primeiro caso e os grandes ao segundo. Tal facto, não impede que em alguns exemplares o aro de suspensão se ligue apenas a uma das partes da peça. No entanto, ao contrário do que acontece com outros modelos de brincos da colecção, as duas partes que compõem os brincos apresentam, normalmente, as mesmas soluções formais e decorativas, proporcionando uma maior uniformidade do conjunto. Todos eles obedecem a uma estrutura mais ou menos comprida ou oblonga, de feição oval ou losangular, dependendo dos motivos decorativos usados, respectivos contornos e da maneira como se distribuem pela peça. A repetição de determinados motivos ornamentais que rematam inferiormente a peça, tornou possível separar três subtipos de brincos compridos e distingui-los desse modo: de bolota, os mais abundantes, de cacho de uvas e os que mostram, sem interrupção, motivos fitomórficos (ramos, folhas, flores e frutos) em todo o corpo da peça, em número muito reduzido. Os motivos que rematam superiormente os cunhos são mais diversificados do que aqueles encontrados para as arrecadas: para além da esfera, elemento frequente encontrada para estas, folhas trilobadas ou polilobadas, com ou sem nervura central, ramos enrolados na extremidade ou de cabeça achatada, flor em cálice seguida de esfera, ou aberta, com cinco ou seis pétalas, fruto em cacho com três ou cinco bagos, redondos e carnudos, ou seta terminada em esfera, constituem os principais motivos que fecham superiormente os modelos, dos maiores aos mais pequenos.
Os restantes elementos decorativos neles presentes, são, no entanto, os mesmos observados nas arrecadas, espalhando-se de forma semelhante pela superfície do molde que pode apresentar uma decoração simétrica ou assimétrica. Os motivos geométricos não são muito frequentes mas ocupam uma posição de equilíbrio estético muito importante na globalidade do molde ou servem de suporte a outros motivos decorativos: as esferas ou meias esferas fecham inferiormente, sem excepção, as bolotas (no caso dos cachos de uvas formam os bagos), ou surgem por vezes a rematar superiormente a matriz. Pequenas argolas transbordando raminhos, folhas ou circundando pequenas setas , isoladas ou em cadeia, simples ou coroadas a modo de girassóis, triângulos interrompidos, losangos geminados e motivos em S, abarcam esta categoria ou integram-se na dos motivos vegetalistas, cujas fronteiras são por vezes difíceis de traçar. Nos motivos vegetalistas incluem-se, de forma mais ou menos estilizada, as linhas serpentiformes enroscadas noutros elementos decorativos, gavinhas, folhas de recorte variado, flores diversificadas, espigas e frutos não identificados.
Em dois dos cunhos que não rematam inferiormente em bolota ou cacho de uvas, os motivos apresentam um traço linear e são executados com um tal cuidado e precisão que mais parecem retirados de um álbum de desenhos. Folhas e flores, com nervuras interiores estranhas e pouco naturais, sem paralelo nos motivos das outras peças da colecção, espalham-se livremente pela superfície, constituídas por partes de diversos tamanhos, contidas ou alongadas. Os restantes motivos figurativos são bastante numerosos e ocupam uma posição central nos cunhos maiores, aqueles que proporcionam uma superfície mais alargada e consequentemente uma melhor distribuição do desenho.
Este evidencia um traço mais ou menos solto, dependendo do espaço disponível na peça para a sua colocação e do talento do executante que o realizou. Se alguns ornamentos apresentam um aspecto atarracado com um traçado pouco correcto, tornando difícil a compreensão da natureza do objecto, outros, pelo contrário, constituem verdadeiros "trabalhos de mestre". Os elementos surgem isolados ou associados a outros motivos, com os quais guardam uma maior ou menor afinidade: âncoras, cordas, punhais e espadas dispostos em cruz de Santo André, machados cruzados, por vezes com escudetes sobre eles, corações nas mais diversas posições,ocasionalmente trespassados por setas, jarras com flores, cântaros, cornucopias, fitas, chaves, sozinhas ou cruzadas, em pé ou deitadas, coroas, setas, mãos, cruzes, pássaros, cobras, conchas, cestas, as Armas de Portugal, foice e ancinho juntos, numa clara alusão às actividades agrícolas, Cálice e Cruz..., constituem uma infinidade de motivos, em composições variadíssimas, guardando em si uma simbologia rapidamente reconhecida ou irremediavelmente perdida no silêncio do metal. Jóias com estas características podem ser observadas nalguns museus públicos ou em livros e catálogos de exposições, pertencentes a colecções particulares. As datas atribuídas a algumas dessas peças fazem prolongar, no tempo, o seu fabrico. O desconhecimento dos critérios usados nessas classificações, juntamente com o facto de não conhecermos qualquer datação fidedigna anterior aos meados do século XIX, não nos permite avaliar da veracidade dessas datações. Os critérios formais e decorativos, não são suficientes para tornar possível a datação em ourivesaria. A ourivesaria Gomes, da Póvoa de Varzim, possui um par de brincos "cacho de uvas", em ouro e de grande tamanho, que foram datados do século XVIII. Com motivos decorativos diferentes mas de soluções técnica e formal iguais, um outro par de brincos em ouro, pertencente a uma colecção particular do Porto, foi também datado do século XVIII. Idênticos a este último, vários modelos com motivos decorativos diversificados, estiveram expostos na exposição realizada no Museu Nacional Soares dos Reis, em 1993, todos pertencentes a colecções particulares. Este conjunto de peças foi variavelmente datado entre os começos do século XIX e o século XX (um dos pares é de fabrico actual), e dão-nos a conhecer alguns nomes de ourives que as trabalharam: Francisco Martins de Oliveira Castro e Manuel Justino, ambos do Porto e António Gomes, da Póvoa de Varzim, antecessor da oficina Gomes, ainda hoje existente. Desta última oficina saiu, também, o par de brincos compridos, em prata dourada, existente no fundo de reservas do MAPL. Uma das marcas incisa nos brincos, corresponde àquela registada em 1902 por António Gomes, da Póvoa de Varzim, transferida em 1932 para António Gomes & Sá. Ainda do Porto, é possível conhecer o nome de outras duas oficinas que trabalharam estas peças: a do ourives António Moreira Baltar, usada na Contrastaria do Porto entre 1881 a 1886 e a do ourives Joaquim Dias de Castro. Na Exposição de Ourivesaria Artesanal de Gondomar, estiveram expostos vários destes brincos, todos pertencentes a particulares, datáveis dos meados do século XIX a meados do decorrente. A escassez de objectos existentes nos museus públicos, torna particularmente relevante o estudo de colecções privadas que se revertem, assim, numa importante fonte a explorar. Prova-o, o brinco pertencente a uma colecção particular presente no livro Ouro Popular Português e que é exactamente igual a dois dos modelos estudados. Os Autores da obra afirmam tratar-se de uma jóia dos finais do século XIX, início do século XX. A epopeia dos pescadores poveiros, constituem provas marcantes da predilecção que estas peças assumiram no gosto e na imagem da mulher duriense durante décadas a fio. Mas não foram as únicas: um desenho de Laura Costa intitulado Trás-os-Montes e Alto Douro, figura uma mulher da região, com o seu traje típico e brincos compridos nas orelhas, ocos, que parecem terminar num cacho de uvas e uma fotografia de Platão Mendes, representa um casal de Pombal ostentando a típica indumentária da região, usando igualmente a mulher uns brincos compridos). A presença constante dos ourives nas feiras e as longas viagens exigidas pela procura dos melhores centros de venda, foram factores que proporcionaram a grande mobilidade de modelos e ideias, justificando a sua dispersão por espaços alargados do território português e que não raras vezes, ultrapassavam as fronteiras. Se a sua popularidade e ligação ao mundo rural é evidente em imagens obtidas, realizadas entre os finais do século passado e primeira metade do presente, a exuberância decorativa intrínseca a estes brincos e a sua permanência nos gostos, podem explicar o seu emprego, na actualidade, enquanto acessórios de vestidos de noite desfilados em "passereles". Alheios à passagem do tempo e adaptando-se a diferentes modas e gostos, estes moldes vão sobrevivendo às gerações e resistindo à força do cadinho. Visite-nos e avalie as suas peças! Tem jóias antigas? Pretende avaliá-las? Contacte-nos! Conheça a opinião dos nossos Clientes! Saiba também quais são os nossos critérios de avaliação! Conheça as peças com mais valor! New Greenfil Lda, faça parte de uma história de sucesso!
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