(12-01-2025 às 20:25:25)
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Criação da Joalharia Portuguesa
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O conhecimento da intervenção de determinados mestres na criação e execução de peças de ourivesaria nos finais do século XIX e na primeira metade do século XX começa a ganhar alguma substância. Nomes como Augusto Luís de Sousa (da Leitão & Irmão, António Maria Ribeiro (da Reis & Filhos e, posteriormente, autónomo), João da Silva ou José Rosas Júnior contribuíram significativamente para dotar esta arte, uns mais a nível da prataria, outros da Panorama da joalharia em Portugal nos finais do século XIX e na primeira metade do século XX. Portugal viveu um intenso momento da produção de joalharia na segunda metade do século XIX, sobretudo ligado aos ourives do Porto e de Gondomar, e com relevantes peças saídas das oficinas que trabalhavam para alguns joalheiros da capital portuguesa. Por esses tempos, destacaram-se Estêvão de Sousa, ourives especialmente apreciado por D. Maria Pia, a casa Mourão & Irmão, com lojas no Porto e em Lisboa, e, posteriormente, a Leitão & Irmão, com estabelecimentos igualmente em ambas as localidades, vindo a marcar de forma indelével o percurso da alta joalharia em Portugal nos finais de Oitocentos e, sobretudo, na primeira metade do século XX.
Estilisticamente, convivem ainda algumas correntes naturalistas da joalharia oitocentista com peças mais ou menos arrojadas, se bem que integradas dentro A alta sociedade de Lisboa, Porto e da Província encomendam importantes adereços, muitos dos quais ainda hoje sobrevivem em colecções particulares, apartados,cada vez mais, dos olhares públicos. Em geral, seguem os gostos das elites pelas reminiscências estéticas do passado, que dominam a sociedade vinda de trás, e dos possidentes emergentes que frequentam o mundo social da Belle Époque nacional, bem documentada na revista Ilustração Portuguesa. Curiosamente, as grandes casas de ourivesaria, como a Leitão & Irmão e a Reis & Filhos, nos seus instrumentos panegíricos de função publicitária, publicados desde os finais do século XIX, conferem muito mais relevância às peças de prataria do que às jóias, provavelmente pela vertente mais pública das primeiras em relação às segundas, a que se conferia maior recato, para além das dimensões dos próprios No início do século XX, a Arte Nova penetra timidamente na joalharia portuguesa, com influências chegadas de vários pontos da Europa, mas não conquistou a elite dominante, pelo que, é dado percepcionar através das jóias que se conhece, estas não se deixaram seduzir pela renovação estilística que esta corrente incorporava. São pequenos alfinetes e pendentes, em geral, com acentuada sinuosidade, mas sem nunca se atingir, pelo menos do que se conhece, o apuramento de concepção e execução artística alcançados noutros pontos do Mundo Ocidental. Quando a Casa Leitão & Irmão, em 1913, concebe o diadema que D. Manuel II, no exílio, oferecerá a sua mulher, D. Augusta Vitória, com diamantes e rubis, ornado de cruzes de Cristo, é sinal de que os estilos inspirados no passado continuam a representar o eixo estético das principais obras.
Mais tarde, nas décadas de 20 e 30, verifica-se a elaboração de um número mais alargado de exemplares Art Déco, apesar de estes – e tal como se havia passado com a prataria, acabarem por alcançar mais alguma adesão em alguns membros das elites com contactos com o que se passava na Europa, nomeadamente a aristocracia, os industriais e os ricos comerciantes que, frequentemente, viajavam até Paris. Dessa produção deu notícia a revista Esmeralda, uma publicação determinante para se perceber o percurso da ourivesaria portuguesa, sobretudo durante os anos
No entanto, a marca dominante articulava-se com a vigência dos revivalismos e eclectismos, mais em consonância com o gosto dominante. Nesse sentido, as peças que parecessem antigas estariam mais de acordo com a intenção das elites em aparentar que usavam peças com ligação a um passado que poderiam não possuir. Seria, pois, um casamento entre a ostentação do novo com a permanência do antigo, dado pelo revivalismo de várias correntes estéticas passadas. A esta tendência não escapou, igualmente, a generalidade das principais obras da casa de José Rosas & C.ª, como veremos em seguida.
José Rosas Júnior (1885-1958) Para contextualizar a figura de José Rosas Júnior, teremos de recuar até à primeira metade do século XIX, época em que iniciou a sua actividade o seu avô materno, Vicente Manuel de Moura (1815-1908), ourives do ouro, ensaiador e contraste desse metal na cidade do Porto. A casa de José Rosas & C.ª é um dos estabelecimentos de ourivesaria mais antigos do País, tendo a origem mais longínqua, no Porto, através da O estabelecimento localizava-se na tradicional Rua das Flores, o arruamento dos principais ourives ainda na segunda metade de Oitocentos. Na transição do século XIX para o século XX, esta ourivesaria realizou exposições e editou catálogos das peças que comercializava, o que possibilitou, não só a difusão dos objectos, como, actualmente, o conhecimento preciso das peças que vendia. Seria, no entanto, seu filho, José Rosas Júnior (1885-1958), que mais viria a influenciar a ourivesaria portuguesa. Com um gosto requintado, influenciado por Inglaterra, onde estudou, tornaria este estabelecimento portuense num dos mais importantes do País, a par com a Casa Reis & Filhos, também com eles relacionados familiarmente. José Rosas Júnior contactava, desde muito cedo, com o círculo de amizades de seus pais, entre os quais se encontravam nomes grados da Arte da época, como Por intermédio de Jaime Batalha Reis, que era cônsul de Portugal em Londres, e por solicitação de António Arroyo e do escultor António Teixeira Lopes, vai para Este é a bagagem estética e técnica que José Rosas Júnior recebe no ponto de arranque da sua longa carreira. E essas influências inglesas tornam-se O cenário em que se encontra a casa José Rosas aquando do seu regresso apanha os finais da Monarquia e as visitas reais de D. Carlos e D. Manuel II à capital do Norte. Ainda tentaria abrir uma segunda loja em Lisboa, mas com a proclamação da República acabou por não concretizar esse intento. Nestes primeiros tempos do século XX organizara aí exposições, do que dera notícia uma das publicações mais relevantes na época, A Ilustração Portugues. Os tempos da primeira República haveriam de trazer algumas dificuldades, que a casa vai ultrapassando. O seu casamento, ocorrido em 1911, com D. Maria Adquire, por intermédio do jurisconsulto Dr. António Pinto de Mesquita, antigo governador Civil do Porto, a casa de Ronfe, situada na freguesia de Meinedo, em A paixão que nutria pela Arte, visível na sua biblioteca, conduziu-o ao cargo de conservador-ajudante do Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e, no Palácio da Ajuda, foi incumbido da relevante missão do restauro das jóias da Casa Real. Foi, igualmente, mesário da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo do Porto. Destaca-se ainda, para além do supra referido livro, o importante estudo sobre os pendentes em forma de laço, vulgarmente conhecidos por laças, publicado No ano seguinte, coordenou o livro comemorativo Nos anos 70 mudaria as instalações comerciais da Rua das Flores para a zona da Boavista, na zona comercial do empreendimento Graham (Rua Eugénio de Castro), onde se mantém. Actualmente com mais de noventa anos, ainda há pouco tempo orientava esteticamente alguns dos objectos vendidos neste estabelecimento. De há anos a esta parte, passou a contar com a colaboração de seu filho, Eng.º José Rosas, e da sua mulher, Sónia Rosas. A criação de peças Arte Nova e Art Déco Para além de uma produção maioritariamente revivalista, existem na obra de José Rosas Júnior manifestações do movimento Arte Nova, observáveis em algumas peças cujos desenhos existem no arquivo desta casa de ourivesaria. São, contudo, jóias contidas na exuberância das formas e na utilização dos materiais, recorrendo, em alguns casos, à esmaltagem, o que permite o seu enquadramento, no status quo estético vigente na época. Entre as jóias Arte Nova, salienta-se uma primeira fase de marcada influência nas correntes inglesas, como os desenhos concebidos para alfinetes esmaltados em prata com pedraria, datados de 1902, ou para um alfinete, em 1907 e a que não é estranha a presença em Inglaterra do ourives-joalheiro, como Mais discretamente Arte Nova, mas claramente incorporados neste estilo, o pendente, concebido em 1907, com diamantes e rubis, e um possível colar, cravejado de diamantes, que aqui não reproduzimos. Com acentuada presença deste estilo surge um alfinete em forma de pena de pavão de ouro, platina e diamantes brilhantes, realizado em 1910, e apresentado como uma das produções mais relevantes do percurso da casa. Uma progressiva linearidade será visível noutras peças, como fios com pendentes, e a Art Déco deixará, também, as suas marcas na produção de José Rosas Júnior, nomeadamente nos alfinetes de disposição rectangular, conjugando, numa versão muito peculiar, esmaltes com pedraria e diversas gemas de cor com os diamantes. Destas tipologias de peças possui o arquivo desta casa comercial alguns desenhos de notáveis exemplares e de cariz marcadamente geométrico. Existem desenhos para clips e alguns modelos de pulseiras, conjugando diamantes com safiras, tipologias muito ao gosto desta corrente estética. Apesar destes ensaios estilísticos das correntes vanguardistas, alguns de marcada erudição, estamos em crer que esta vertente artística se afirmou como residual ao longo da produção da casa, como se poderá tornar perceptível pela leitura do ponto seguinte. A criação de peças revivalistas, eclécticas e tradicionais. A casa Rosas trabalhou para as elites portuguesas em geral, mas, sobretudo, para as da cidade do Porto e de algumas localidades do interior. Realizou peças de joalharia de grande qualidade, bem como objectos decorativos e utilitários em prata; possuiu, também, uma importante produção de alfaias religiosas. Algumas das peças mais significativas da sua produção encontram-se presentes no livro que, Será, no entanto, no domínio da joalharia e da acção concreta de José Rosas Júnior que nos debruçaremos. Este ourives-joalheiro possuía uma vocação artística surpreendente, em termos comparativos com os seus pares, e a formação em Inglaterra acentuaria os contactos com novas realidades artísticas da joalharia internacional, que, como vimos, ainda tentou experimentar sob influência da estadia nesse País. No entanto, regressando a Portugal, não lhe foi possível continuar em pleno com essa vertente, visto a clientela da sua casa ser profundamente tradicionalista. Aí, o gosto será marcado, ainda durante os primeiros dois terços do século XX, por uma vertente tardo-romântica, definida pelos eclectismos e revivalismos. Realizou algumas jóias de certo aparato, visíveis na publicação do centenário. Logo do início do século (1906), destaca-se um adereço de diamantes revivalista, num misto da produção portuguesa dos séculos XVIII e XIX. Os brincos revelam-se marcadamente classicizantes, enquanto o colar ensaia um conjunto de laço No âmbito dos colares, existem desenhos para objectos mais tradicionais, com o recurso aos esmaltes e a técnicas de trabalho do ouro de reminiscências setecentistas, que esta casa recuperaria e que haveria de se tornar uma forte aposta, entre os finais do século XIX e as primeiras duas décadas do século XX. É o caso de um colar, em cujo pendente central se vêem as quinas, a azul, e um medalhão com a cruz de Cristo encimada pela esfera armilar. A Ordem de Santiago surge, também, como recurso iconográfico para influenciar o pendente central de um Ou, inspirando-se nos exemplares da primeira metade Noutros casos, a aposta era sobretudo na cravação de pedraria, com diamantes e esmeraldas, seguindo as correntes internacionais dos princípios de Novecentos.
Foi, pois, na assunção das correntes mais tradicionalistas que José Rosas Júnior mais assiduamente concebeu as suas peças de joalharia. Isso é visível, por exemplo, em determinados anéis e nos alfinetes com ouro e esmalte, com a frase «Por Revisitando a centúria de Setecentos, concebeu alfinetes em forma de laça ou de aigrette, com os habituais pingentes. De 1945, data um alfinete em forma de um magnífico e aparatoso bouquet floral, com aplicação de diamantes, de inspiração setecentista. Noutras jóias, sem reminiscências históricas exactas, pressente-se o peso dos séculos XVIII e XIX, seja pela interpretação da tipologia ou pelos motivos ornamentais empregues. Nessa fase, servirão de ponto de referência alguns álbuns de desenhos de jóias, executados por José Rosas Júnior, existentes no acervo documental da ourivesaria e datáveis da primeira metade do século XX. Para além disso, verifica-se a influência Essa marca torna-se visível, nomeadamente, na profusão de desenhos para pequenas peças de matriz classicizante, ficando, sobretudo, renomados os seus alfinetes em forma de cestas, denominados açafates, com pedras de diversas cores. Por outro lado, alcançaram um grande sucesso junto da clientela os alfinetes com ornatos neoclássicos, de que abundam desenhos nos livros de José Rosas, inspirados no Palácio da Brejoeira, construção onde é visível este estilo. Para o uso masculino, e continuando uma tradição de cariz oitocentista, encontramos nos seus álbuns desenhos para alfinetes de gravata, actualizados ao gosto dos anos 20/30 do século XX, com motivos mais tradicionais combinados com reinterpretações lineares, mais ao gosto da Art Déco. José Rosas Júnior desempenhou um importante papel na joalharia portuguesa dos primeiros dois terços do século XX e a existência de um vasto espólio iconográfico permite-nos, actualmente, ter uma percepção concreta do gosto vigente, dos ensaios de novidade e do peso de uma clientela tradicionalista, que determinou os caminhos da concepção de jóias e uma certa estagnação da evolução artística. A opção por modelos Arte Nova e, mais tarde, Art Déco representou uma excepção em face das opções a que o obrigaram as correntes revivalistas. De certa forma, a estética classicizante constituiu uma opção natural, como o demonstraram os desenhos executados no palácio da Brejoeira, em Monção, onde Manteve-se activo até à sua morte, ocorrida em 1958. Poucos anos depois, já nos anos sessenta, deram-se as primeiras manifestações de joalharia contemporânea, associadas a nomes como José Aurélio, Gordillo, Kukas ou Margarida Schimmelpfennig. Contudo, o panorama da joalharia resistia à mudança, pois a clientela, esse factor decisivo na evolução da arte, continuava arreigada a padrões mais tradicionais, que apenas se começaram a abrir em maior escala nos finais do século XX. Visite-nos e avalie as suas peças! Tem jóias antigas? Pretende avaliá-las? Contacte-nos! Conheça a opinião dos nossos Clientes! Saiba também quais são os nossos critérios de avaliação! Conheça as peças com mais valor! New Greenfil Lda, faça parte de uma história de sucesso! |